Os veículos autónomos voltaram à ordem do dia, depois de um acidente mortal nos Estados Unidos, quando um Tesla S embateu num camião quando o seu condutor o usava no modo Autopilot. Independentemente do que o inquérito já apurou – ligeiro excesso de velocidade do carro mas, acima de tudo, sensores que confundiram a lateral branca do camião com o céu… –, a questão que se deve colocar em relação aos automóveis de condução autónoma que tantas imaginações andam a excitar é: o que queremos fazer com eles?
Ou, por outras palavras, se a tecnologia de condução autónoma está praticamente pronta e a postos… estaremos nós, humanos, aptos para a receber? Há muito quem seja da opinião que somos precisamente nós os principais entraves à comercialização e expansão dos automóveis que se conduzem a si próprios. Porque, basicamente, não somos de confiança!…
Sejamos claros: quando se fala em condução autónoma (pelo menos nos anos mais próximos), fala-se de automóveis que estão preparados para seguir por si só determinado trajecto, adaptando-se às condições do trânsito à sua volta, mas que não dispensam um controlo ou, se se preferir, uma vigilância permanente do ocupante (se não se lhe quiser chamar condutor) para tomar os comandos em qualquer situação de emergência. Essa coisa de ir de A para B totalmente imerso na leitura do jornal (ou do iPad…) sem olhar sequer pela janela? Esqueça…
Se nem nos aviões que estão num ambiente muito menos congestionado, por muito ocupados que andem os céus, essa vigilância é descurada quando se liga o piloto automático, porque raio haveria isso de acontecer nos automóveis?! Em especial quando teremos de atravessar uma muito longa fase em que os veículos autónomos terão de conviver com automóveis guiados por pessoas.
Já fiz um Lisboa-Porto-Lisboa num Tesla Model S e o sistema Autopilot é verdadeiramente brilhante, na forma como lê a estrada (mesmo nas zonas em que as marcações estão sumidas), como curva, como adapta a velocidade ao tráfego circundante! É, de facto, possível deixá-lo guiar-nos sozinho e apreciar a tranquilidade de uma viagem em que nada temos de fazer em termos físicos. Mas em momento algum descurei a atenção e foram várias as vezes em que estive quase a "roubar" o controlo do carro…
A condução autónoma é uma realidade que já existe, mas não pode ser ainda assumida e vendida pelos construtores. Os maiores entraves são a falta de legislação mas, acima de tudo, o comportamento dos condutores. Porque é totalmente errado pensar que basta activar o sistema e ficamos livres para fazer o que nos der na real gana. Não é assim que funciona e quem o encarar dessa forma arrisca… a magoar-se!